Em defesa do Guia Alimentar para a População Brasileira

Postado por: Hugo Scofano

Depois de ataques sistemáticos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento emite nota técnica direcionada ao Ministério da Saúde pedindo a revisão urgente do Guia 

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) enviou uma nota técnica ao Ministro da Saúde atacando o Guia Alimentar para a População Brasileira nesta quarta (9). Segundo o documento, a classificação NOVA, que classifica os alimentos de acordo com seu processamento, é “incoerente e prejudica a implementação de diretrizes adequadas”.

Ainda afirma-se que “a diferenciação de ‘alimento ultraprocessado’ por meio da contagem do número de ingredientes (frequentemente cinco ou mais) parece ser algo cômico”. A justificativa dada é que “as receitas domésticas que utilizam vários ingredientes não podem em hipótese alguma serem rotuladas dessa forma, o que demonstra um evidente ataque sem justificativa a industrialização”.

O que os autores parecem não compreender que é a classificação NOVA, na verdade, nem mesmo contempla as preparações culinárias. A própria valorização do ato de cozinhar é bem expressa nos Dez Passos para uma Alimentação Adequada e Saudável que recomenda adquirir, desenvolver e partilhar habilidades culinárias sem distinção de gênero.

Outro argumento é que o processamento de alimentos não diminui seu valor nutricional, contrariando a maioria das evidências científicas na área de Nutrição. O suporte da informação é de apenas uma referência. O documento ainda acusa que os alimentos in natura são “naturalmente desbalanceados”, pois não suprem todas as necessidades nutricionais, com exceção do leite materno.

Ainda é apresentada a crítica de que, supostamente, as diretrizes limitam a autonomia na escolha dos alimentos. O Guia Alimentar estimula o exercício do senso crítico quando as informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propaganda comerciais, bem como a escolha diversificada dos alimentos com a valorização do comer culturalmente adequado.

Em uma pontuação que beira o absurdo, ainda afirma-se que regra de ouro que recomenda sempre dar preferência a alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias é potencialmente “perigosa”.

Ainda se coloca que os argumentos sobre o impacto ambiental dos produtos de origem animal são “menções equivocadas, preconceituosas e pseudocientíficas”.  A FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, já publicou diversos relatórios consistentes sobre o assunto, algo que pode ser facilmente constatou através de buscas online em fontes confiáveis.

Por fim, o documento assinado Eduardo Mello Mazzoleni, Coordenador-Geral do MAPA, e Luís Eduardo Pacifici Rangel, Diretor do órgão, pede revisão urgente e completa do Guia Alimentar para a População Brasileira, salientando, sem qualquer citação de fonte, que este é considerado um dos piores atualmente. 

A Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável declarou que a Nota Técnica só confirma os ataques sistemáticos que o Guia Alimentar vem sofrendo desde seu lançamento. “É revoltante o teor deste documento que desconsidera as inúmeras evidências científicas nas quais o Guia está fundamentado e o reconhecimento nacional e internacional daqueles que realmente promovem e protegem a alimentação adequada e saudável”, declarou a entidade que ressalta a contínua sua defesa por um conjunto de organizações, pesquisadores e os mais diferentes setores da sociedade brasileira.

Já a Associação Brasileira de Nutrição, entidade técnico-científica, reafirmou o compromisso na defesa da segurança alimentar e nutricional e sua luta contra os conflitos de interesses, afirmando sua defesa total do Guia.

O Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, da Faculdade de Saúde Pública da USP, também divulgou uma nota oficial que cita a vasta literatura científica e nacional e internacional acumulada desde 2009, data da classificação proposta pela Nova. 

São mais de 400 estudos científicos indexados na base PubMed que utilizaram a classificação NOVA e o conceito de alimentos ultraprocessados. Além disso, também aponta a omissão de cinco revisões sistemáticas, uma revisão narrativa e inclusive um ensaio clínico que demonstram os impactos dos ultraprocessados na Saúde. 

Ainda há comentário sobre a acusação do Guia Brasileiro estar entre os “piores” do planeta. “Assim não pensam organismos técnicos das Nações Unidas, como a FAO, a OMS e o UNICEF, que consideram o Guia brasileiro um exemplo a ser seguido. Assim não pensam os Ministérios da Saúde do Canadá, da França, do Uruguai, do Peru e do Equador, que têm seus guias alimentares e suas políticas de alimentação e nutrição inspirados no Brasil.”

É apontada também a fragilidade e inconsistência dos argumentos e a absurda e desrespeitosa avaliação do Guia, depositando confiança de que “Ministério da Saúde e a sociedade brasileira saberão responder à altura o que se configura como um descabido ataque à saúde e à segurança alimentar e nutricional do nosso povo”.

Para ter acesso ao posicionamento completo, acesso o link clicando aqui.